Akira Toriyama, criador de Dragon Ball, sempre teve uma visão clara sobre Goku: ele não é um herói tradicional, mas um guerreiro movido pela busca de desafios. No entanto, o anime adaptado pela Toei Animation transformou o personagem em um símbolo de justiça, algo que Toriyama criticou publicamente em entrevistas.
A Crítica de Toriyama: “Goku Não Luta Pelo Bem dos Outros”
Em uma entrevista à Wired Japan em 1997, Toriyama deixou claro sua insatisfação com a interpretação do anime:
“Goku não luta pelo bem dos outros, mas sim porque quer enfrentar adversários fortes. O anime o retratou como um ‘herói justo’, o que simplificou sua complexidade”.
Essa mudança alterou a essência do personagem. Enquanto no mangá Goku prioriza a emoção da batalha (mesmo que isso coloque o universo em risco), o anime o transformou em um salvador clássico, diluindo suas motivações egoístas.
Exemplo emblemático: No arco Sobrevivência do Universo de Dragon Ball Super, Goku propõe o Torneio do Poder, arriscando a existência de 12 universos apenas para lutar contra guerreiros fortes. Essa decisão, criticada por personagens como Beerus, reflete melhor a visão original de Toriyama.
Design e Personalidade: Duas Camadas de Insatisfação
Além da personalidade, Toriyama também criticou a representação visual de Goku no anime. Em entrevista durante o lançamento do mangá Dragon Ball Super, ele mencionou:
“Os animadores profissionais têm dificuldade em capturar meus traços simples. Goku no anime parece mais genérico, perdendo a expressividade única do mangá”.
Toyotarō, assistente de Toriyama, concordou, destacando que replicar o estilo minimalista do autor é um desafio técnico. Isso explica por que, em cenas do anime, Goku muitas vezes parece mais “superficial” emocionalmente comparado às páginas originais.
O Anime vs. Mangá: Onde Está a Diferença?
- Motivações:
- Mangá: Goku derrota inimigos como Freeza ou Cell por acidente, já que seu foco é testar seus limites .
- Anime: Cenas como o sacrifício contra Cell são retratadas como atos heroicos, ignorando que, no mangá, Goku confiava cegamente em Gohan sem considerar riscos.
- Desenvolvimento de Personagem:
- Enquanto o anime enfatiza o lado “bondoso” de Goku (ex.: proteção da Terra), o mangá mostra sua indiferença em situações como a destruição de universos no Torneio do Poder.
- Estética:
- O design “arredondado” e expressivo de Toriyama foi substituído por traços mais rígidos no anime, perdendo parte do charme cômico original.
O Torneio do Poder: Uma Concessão à Visão de Toriyama?
O arco Sobrevivência do Universo em Dragon Ball Super parece ser uma tentativa de corrigir a narrativa. Goku ignora conselhos de Whis e Beerus para propor o torneio, colocando milhões de vidas em risco por pura ambição pessoal. Essa trama ecoa a crítica de Toriyama:
“Goku não é um herói. Ele é um lutador que prioriza a emoção da batalha acima de tudo”.
Curiosamente, essa é uma das poucas vezes em que o anime alinha-se fielmente ao espírito do mangá, mostrando Goku como um anti-herói complexo
A divergência entre anime e mangá reflete um conflito comum em adaptações: priorizar apelo comercial vs. fidelidade artística. Enquanto o anime de Dragon Ball Z cementou Goku como ícone pop, o mangá preserva nuances que o tornam mais humano (e falho).
Para Toriyama, a essência de Goku sempre foi sua inocência perigosa — um Saiyajin que salva o mundo não por bondade, mas porque inimigos poderosos são “divertidos”. O anime, ao romantizá-lo, perdeu parte dessa profundidade.
Fontes: Kanzenshuu | Observatório do Cinema | Legião dos Heróis