A protagonista de Frieren: Beyond Journey’s End não tem dúvidas: demônios são criaturas irredimíveis que devem ser exterminadas. Essa postura radical levou parte do público a acusar a série de promover ideias fascistas. A fala de Frieren — “Quanto mais você deseja a coexistência, mais pessoas morrem em suas mãos” — tornou-se um símbolo dessa discussão.
A polêmica surge porque a narrativa não questiona a visão da personagem. Pelo contrário: os demônios agem exatamente como Frieren descreve. Eles usam a fala humana para manipular, como no caso da criança demônio poupada por Himmel, que mais tarde massacra uma vila, ou de Lugner, que propõe uma “paz” falsa para enfraquecer humanos.
A Acusação de Fascismo: Exagero ou Reflexo?
Críticos argumentam que a retórica de Frieren ecoa discursos reais de opressão, onde grupos são desumanizados para justificar violência. A comparação com regimes autoritários, que rotulavam minorias como “ameaças existenciais”, fez com que espectadores vissem a personagem como um “monstro fascista”.
No entanto, defensores da série ressaltam que os demônios não são metáforas para grupos humanos. Eles são literalmente predadores sobrenaturais, biologicamente programados para matar — como “tigres com habilidades de conversação”, nas palavras de um fã. Sua incapacidade de empatia é confirmada até por diálogos entre demônios, como quando Lugner admite não entender conceitos como “pai” ou “filho”.
Por Que Essa Representação Incomoda em 2025?
A controvérsia reflete uma mudança nas expectativas do público. Animes recentes, como Chainsaw Man e Demon Slayer, exploram nuances em vilões, mostrando traumas ou motivações complexas. Em Frieren, os demônios são puro mal — uma abordagem clássica, mas que hoje soa anacrônica para alguns.
O próprio autor, Kanehito Yamada, já deixou claro que seu foco não é a política, mas histórias íntimas sobre luto e conexões humanas. A simplicidade do mundo fantástico (inspirado em Senhor dos Anéis) serve justamente para destacar esses temas, não para criar alegorias sociais 59.
O Perigo da Projeção: Quando Ficção e Realidade Se Confundem
Apesar das intenções da obra, parte do fandom interpretou os demônios como símbolos de minorias reais, atraindo até grupos extremistas que se identificaram com Frieren. Esse fenômeno preocupa, pois a série não pretende ser um manifesto, mas um conto sobre memória e perda.
O mangá até explora a ambiguidade moral em outros aspectos — como a relação de Frieren com humanos efêmeros —, mas mantém os demônios como força antagônica absoluta. Para Yamada, essa dualidade é essencial para contrastar a frieza inicial da protagonista com sua jornada emocional.
Frieren não é fascista, mas a polêmica revela como narrativas simplistas podem ser lidas de formas imprevistas. Enquanto a obra se destaca por sua animação impecável e profundidade emocional (sendo considerada até “melhor que o mangá”), a discussão sobre demônios incentiva reflexões sobre como histórias fantásticas dialogam com questões reais — mesmo sem intenção.